24 de março de 2013

Dezesseis Luas

Eu ia postar para vocês este livro, mais acontece um imprevisto, o livro que esta em PDF esta bloqueado por uma senha e não pode ser copiado,então eu teria que reescreve-lo aqui para vocês palavra por palavra,foi tentar fazer isso...Mais vai demorar. Ja terminei de ler neste livro ,então vou fazer o seguinte como eu não entendi o começo do livro (eu pensava que se tratava de Vampiros,pois é ,tinha recebido essa informação errada, se trata de Conjuradores, uma especie de bruxos), vou rele-lo escrevendo aqui! =)
Mais como eu já disse vai demorar ,então paciência meus amores.Por enquanto fiquem com o gostinho de quero mais com a capa e o comecinho do livro (ou comprem).
Beijos
Bella

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Dezesseis Luas_ volume 1. Margaret Stohl & Kami Carcia


Ethan é um garoto normal de uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos, um pouco entendiado com a escola, e totalmente atormentado por sonhos, ou melhor pesadelos, com uma garota que ele nunca conheceu.Até que ela aparece...Lena Duchannes é uma adolescente que luta para esconder seus poderes e uma maldição que assombra sua família há gerações.


Para Nick & Stella,
Emma, May & Kate
e para todos que conjuram ou não, em todos os lugares.
Há mais de nós do que vocês pensam.



A escuridão não pode expulsar a escuridão;
  só a Luz pode fazer isso.
O ódio não pode expulsar o ódio;
  só o Amor pode fazer isso.

 Martin Luther King Jr.



Antes _O meio do nada.

Havia apenas dois tipos de gente em nossa cidade."As burras e as empacadas",que foi como meu pai afetuosamente classificara nossos vizinhos."Os que estão condenados a ficar ou são burros demais para ir embora. Todos os outros acham um meio de fugir". Não havia duvida sobre qual dos dois ele era, mas eu nunca tinha tido coragem de perguntar o motivo. Meu pai era escritor, e morávamos em Gatlin, Carolina do Sul, porque todos os Wate sempre moraram ali, desde que o tataravô do meu tataravô, Ellis Wate, lutou e morreu do outro lado do rio Santee durante a Guerra Civil.

Só que o pessoal daqui não a chamava de Guerra Civil. Todos com menos de 60 anos a chamavam de Guerra entre os Estados, enquanto todos com mais de 60 anos a chamavam de Guerra da Agressão do Norte, como se de alguma forma o norte tivesse levado o sul a entrar na guerra por causa de um fardo ruim de algodão. Todos, menos a minha família.Nós a chamávamos de Guerra Civil.

Era apenas mais um motivo pelo qual eu mal podia esperar para ir embora daqui.

Gatlin não era como as cidadezinhas que você vê nos cinemas, a não ser que fosse em um filme sobre cinquenta anos atrás. Estávamos longe demais de Charleston para ter um Starbucks ou um McDonalds. Só tínhamos um Daree Ken, ja que os Gentry eram pães-duros demais para comprar novas letras quando compraram o Dairy King. A biblioteca ainda tinha os livros catalogados em cartões, a escola ainda tinha quadros-negros e nossa piscina da comunidade era o lago Moultrie, com água marrom morna e tudo.

Podíamos ver um filme no Cineplex na mesma época que ele saia em DVD, mas tínhamos que pegar uma carona até Summerville, perto da faculdade comunitária. As lojas ficavam na rua Main, as boas casas ficavam na rua River, e todas as outras pessoas moravam no sul da autoestrada 9, onde o asfalto se desmanchava em pedaços de concretos_ terrível para andar, mas perfeito para jogar gambas furiosos, os animais mais cruéis que existem.

Nunca se via esse tipo de coisas em filmes.

Gatlin não era um lugar complicado; Gatlin era Gatlin. Os vizinhos ficavam de guarda nas varandas no calor insuportável, sofrendo e suando a vista de todos. Mas não havia sentido. Nada mudava nunca. Amanhã seria o primeiro dia de aula, no segundo ano do ensino médio na escola Stonewall Jackson High, e eu já sabia tudo que iria acontecer: onde eu me sentaria, com quem eu falaria, as piadas, as garotas, quem estacionaria a onde.

Não havia surpresas no Condado de Gatlin. Eramos nada mais nada menos do que o epicentro na meio do nada.

Pelo menos é o que eu pensava quando fechei o meu exemplar surrado de Matadouro Cinco, desliguei meu iPod e apaguei a luz na ultima noite de verão.

Só que eu não podia estar mais errado.


Havia uma maldição.

Havia uma garota.

E no final, havia um tumulo.

Nunca sequer imaginei que aconteceria.




2 de setembro_Continue sonhando.


Caindo.

Eu estava em queda livre, despencando no ar.

_Ethan!

Ela me chamou, e o som da sua voz fez meu coração disparar.

_Me ajude!

Ela estava caindo também. Estiquei meu braço, tentando segura-la. Estiquei o braço, mas só encontrei o ar. Não havia chão sob meus pés e minhas mãos se enfiavam em lama. Encostamos as pontas dos dedos e vi fagulhas verdes na escuridão.

Então ela escorregou por meus dedos e só consegui sentir a perda.

Limão e alecrim. Eu consegui sentir o cheiro dela, até naquele momento.

Mas não consegui segura-la.

E não conseguia viver sem ela.



Me sentei de repente, tentando recuperar o fôlego.

_Ethan Wate! Acorde! Não vou admitir que chegue atrasado ao primeiro dia de aula._ Eu podia ouvir a voz de Amma gritando no andar de baixo.

Meus olhos focalizaram um ponto de luz suave na escuridão. Eu podia ouvir o distante som da chuva contra a velha janela da fazenda. Deve estar chovendo. Deve ser de manhã. Devo estar no meu quarto.

Meu quarto estava quente e úmido por causa da chuva. Por que minha janela estava aberta?

Minha cabeça estava latejando. Deitei novamente na cama e o sonho foi se dissipando, como sempre acontece. Eu estava em segurança no meu quarto, em nossa antiga casa, na mesma cama de mogno que rangia onde provavelmente seis gerações de Wate dormiram antes de mim, onde pessoas não caiam por buracos negros feitos de lama e nada nunca acontecia.

Olhei para meu teto de gesso, pintado da cor do céu para impedir que as abelhas carpinteiras fizessem ninho ali. O que havia de errado comigo?

Havia meses que eu tinha esse mesmo sonho. Apesar de não conseguir me lembrar de tudo, a parte da qual eu me lembrava era sempre a mesma. A garota estava caindo. Eu estava caindo. Tinha que me segurar, mas não conseguia. Se eu soltasse, alguma coisa terrível aconteceria com ela. Mas esse era o problema. Eu não conseguia soltar. Não podia perde-la. Era como se eu estivesse apaixonado por ela, mesmo não a conhecendo. Tipo um amor antes da primeira vista.

Mas isso parecia loucura, porque era apenas uma garota num sonho. Eu nem sabia como ela era. Eu vinha tendo o sonho ha meses, mas em todo esse tempo jamais vira o rosto dela, ou pelo menos não conseguia lembrar. Eu só sabia que tinha a mesma sensação horrível toda a vez que a perdia.
Ela escorregava da minha mão e meu estômago parecia afundar, como nos sentimos durantes a queda em uma montanha-russa.

Frio na barriga. Essa era uma porcaria de metáfora. Era mais como um tiro.

Talvez eu tivesse enlouquecido, ou talvez só precisasse de um banho. Os fones ainda estavam em volta do meu pescoço, e quando olhei para o visor do meu iPod, vi uma música que não reconheci.

"Dezesseis Luas"

O que era aquilo? Cliquei nela. A melodia era assustadora. Eu não conseguia identificar a voz, mas tinha a sensação que já ouvira aquilo.

Dezesseis luas, dezesseis anos
Dezesseis dos seus mais profundos medos
Dezesseis vezes você sonhou com minhas lagrimas
Caindo, caindo ao longo dos anos...

Era deprimente, assustadora...Quase hipnótica.

_Ethan Lawson Wate! _Consegui ouvir Amma gritando mesmo com a música.

Desliguei o iPod e sentei na cama, afastando as cobertas. Os lençóis pareciam estar cheios de areia, mas eu sabia que não era isso.

Era terra. E minha unhas estavam pretas de lama, da mesma forma que ficaram na ultima vez em eu que tivera o sonho.

Enrolei o lençol e o enfiei no cesto de roupa suja embaixo do uniforme do treino do dia anterior. Entrei no chuveiro e tentei esquecer tudo enquanto esfregava as mãos e os últimos pedaços pretos do meu sonho desapareciam pelo ralo. Se eu não pesasse naquilo, não estaria acontecendo. Era assim que eu lidava com a maioria das coisas nos últimos meses.

Mas não quando se tratava dela. Não dava para evitar. Eu sempre pensava nela. Sempre voltava a ter o mesmo sonho, mesmo não conseguido explica-lo. Então, era esse o meu segredo, tudo que queria contar. Eu tinha 16 anos, estava me apaixonando por uma garota que não existia e estava ficando louco.

Não importava o quanto eu esfregasse, eu não conseguia fazer meu coração parar de bater forte. E mesmo com o cheiro de sabonete Ivory e do xampu, eu ainda consegui sentir aquele aroma. Bem de leve, mas eu sabia que estava la.

Limão e alecrim.



Desci as escadas para a segurança da mesmice de sempre. Na mesa de café da manhã, Amma colocou na minha frente o mesmo prato de porcelana azul e branco (porcelana-dragão era como minha mãe chamava) com ovos fritos, bacon, torrada com manteiga e canjica. Amma era nossa governanta, mas era mais como minha avó, apesar de ser mais inteligente e mais mal-humorada do que minha avó verdadeira. Amma tinha praticamente me criado, e ela achava que era a missão dela me fazer crescer mais uns 30 centímetros, apesar de eu já ter 1,89 metro de altura. Esta manhã eu estava estranhamente faminto, como se não comesse ha uma semana. Comi um ovo e dois pedaços de bacon e já me senti melhor. Sorri para ela com a boca cheia.

_Não pegue no meu pé, Amma. É o primeiro dia de aula._ Ela colocou com força na minha frente um gigantesco copo de suco de laranja e outro maior ainda de leite (integral, o único tipo que bebemos aqui).

_Acabou o achocolatado?_ Eu bebia achocolatado do mesmo jeito que algumas pessoas bebem Coca-Cola ou café. Mesmo de manhã, eu estava sempre atrás da minha doce de açúcar.

_A-C-L-I-M-A-T-E-S-E._ Amma usava palavras-cruzadas para tudo. Quanto maior, melhor, e ela gostava de usa-las. O modo como ela soletrava as palavras letra por letra fazia parecer que ela estava dando um tapa na cabeça da gente a casa letra._Quero dizer, acostume-se. E não pense em botar um pé pra fora daquela porta antes de beber o leite que dei pra você.

_Sim, senhora.

_Vejo que você se arrumou._Eu não tinha me arrumado. Estava de jeans e uma camiseta desbotada, como em quase todos os dias. Cada uma tinha um dizer diferente. A de hoje tinha escrito Harley Daviáson. E eu estava com o mesmo Ali Star que usava a três anos.

_Pensei que você fosse contar o cabelo_falou como se uma bronca, mas eu percebi o que era realmente: puro e simples amor.

_Quando falei isso?

_Você não sabe que os olhos são a janela da alma?

_Talvez eu não queira que ninguém use uma janela pra ver a minha alma.

Amma me puniu com mais um prato de bacon. Ela mal chegava a 1,50m de altura e era provavelmente mais velha do que a porcelana-dragão, apesar de em cada aniversario ela insistir que estava fazendo 53 anos. Mas Amma era qualquer coisa , menos uma senhora amável. Ela era a autoridade absoluta na minha casa.

_Bem, não pense que você vai sair nesse tempo com o cabelo molhado. Não gosto da sensação que essa tempestade está me dando. Como se uma coisa ruim tivesse sido chutada no vento, e nada consegue impedir uma dia como esse. Ele tem vontade própria.

Revirei os olhos. Amma tinha uma maneira própria de ver as coisas. Quando ela estava com o humor assim, minha mãe costumava dizer que ela estava escurecendo: religião e superstição misturadas, como só acontece no sul. Quando Amma escurecia, era melhor ficar fora do caminho dela. Assim como era melhor deixar os amuletos dela nos peitoris das janelas e as bonecas que ela fazia nas gavetas onde ela as colocava.

Comi mais uma garfada de ovo e terminei o café da manhã dos campeões: ovos, geleia conservada e bacon, tudo esmagado entre as torradas num sanduíche. Enquanto enfiava tudo isso na boca, olhei pulo corredor por puro habito. A porta do escritório do meu pai já estava fechada. Meu pai escrevia á noite e dormia no sofá velho do escritório de dia. Era assim desde que minha mãe morreu em abril passado. Ele podia muito bem ser um vampiro; era isso que minha tia Caroline tinha dito depois de ter passado uns dias conosco naquela primavera. Eu provavelmente tinha perdido a oportunidade de vê-lo até o dia seguinte. Aquela porta não se abria depois que era fechada.

Ouvi uma buzina na rua. Link. Peguei minha mochila preta caindo aos pedaços e corri pela porta na chuva. Podia muito bem ser tanto sete da noite quanto sete horas da manhã, de tão escuro que o céu estava. O tempo estava havia alguns dias.

O carro de Link, o Lata-Velha, estava na rua, o motor fazendo barulho, a música em alto volume. Eu ia para a escola com  Link todo o dia desde o jardim de infância, quando nos tornamos melhores amigos depois de ele me dar metade do seu Twinkie no ônibus. Só depois descobri que tinha caído no chão. Apesar de nós dois termos tirado carteira nesse verão, Link era quem tinha um carro, se é que podíamos chamar aquilo de carro.

Pelo menos o motor do Lata-Velha estava superando o som da tempestade.

Amma ficou na varanda com os braços cruzados em uma postura reprovadora.

_Não toque música alta aqui, Wesley Jefferson Lincoln. Não pense que não vou ligar para sua mãe e contar a ela o que você ficou fazendo no porão o verão inteiro quando tinha 9 anos.

Link fez uma careta. Poucas pessoas o chamavam pelo nome real; só a mãe dele e Amma.

_Sim, senhora.

A porta de tela da varanda bateu. Ele riu, cantando pneu no asfalto molhado ao se afastar do meio-fio. Como se estivéssemos fugindo, era assim que dirigíamos quase sempre. Só que nunca fugíamos.

_O que você fez no meu porão quando tinha 9 anos?

_O que eu não fiz no seu parão quando eu tinha 9 anos?_ Link abaixou a música, e eu achei bom, porque ela era péssima e ele ia me perguntar se eu tinha gostado, como fazia todo dia. O grande problema da banda dele, Quem Matou Lincoln, era que nenhum integrante sabia tocar um instrumento e nem cantar. Mas ele só falava sobre tocar bateria e mudar para Nova York depois da formatura e sobre os contratos de gravação que provavelmente nunca aconteceriam. E quando digo provavelmente, quero dizer que ele tinha mais chance de fazer uma cesta de três pontos vendado e bêbado do estacionamento do ginásio.

Link não ia para a faculdade, mas ele ainda estava um passo à minha frente. Ele sabia o que queria fazer, mesmo sendo algo improvável. Tudo que eu tinha era uma caixa de sapatos cheia de livretos de faculdades que eu não podia mostrar para o meu pai. Eu não me importava com qual faculdade fosse, desde que fosse pelo menos a uns 1.500 quilômetros de Gatlin.

Eu não queria terminar como meu pai, morando na mesma casa, na mesma cidade pequena em que cresci, com as mesma pessoas que nunca sonharam em sair daqui.



***

Ao nosso redor casas vitorianas velhas e encharcadas ladeavam a rua, quase iguais ao dia em que tinham sido construídas há mais de 100 anos. Minha rua se chamava Cotton Bend porque essas velhas casas costumavam ter na parte de trás quilômetros de campos de plantação de algodão. Agora davam para a autoestrada 9, que era provavelmente a única coisa que tinha mudado aqui.

Peguei um donut velho da caixa que estava no chão do carro.

_Você fez upload de uma música esquisita no meu iPod ontem à noite?

_Que música? O que acha dessa aqui?_ Link aumentou o som da mais recente faixa demo da banda.

_Acho que precisa ser trabalhada. Como todas suas outras músicas._ Era mais ou menos a mesma coisa que eu dizia todo dia.

_É, seu rosto vai precisar ser trabalhado depois que eu der umas porradas em você_ Era mais ou menos a mesma coisa que ele dizia todo dia.

Dei uma olhada na minha lista de músicas.

_A tal música, acho que o nome era algo do tipo "Dezesseis Luas".

_Não sei do que esta falando_

Não estava lá. A música havia sumido, mas eu acabara de ouvi-la naquela manhã. E sabia que não tinha imaginado porque ela ainda estava na minha cabeça.

_Se você quer ouvir uma música, vou botar uma nova_ link olhou para baixo para encontrar a música.

_Ei, cara, olhe para frente.

Mas ele não ergueu o olhar, e com o canto do meu olho, vi um estranho carro passar na frente do nosso...

Por um segundo, os sons da rua e da chuva e de Link se dissolveram no silêncio, e era como se tudo estivesse se movendo em câmera lenta. Eu não conseguia desgrudar os olhos do carro. Era só uma sensação, não uma coisa que conseguisse descrever. E então ele passou por nós, virando em outra direção.

Não reconheci o carro. Nunca o tinha visto antes. Vocês não podem imaginar o quanto isso é impossível, porque eu conhecia cada carro na cidade. Não havia turistas nessa época do ano. Ninguém se arriscaria na temporada de furacões.

Esse carro era longo e preto, como um rabecão. Na verdade, eu estava bem certo de que era um rabecão.

Talvez fosse presságio. talvez esse ano fosse ser pior do que eu pensava.

_Aqui esta. "Bandana Negra". Essa música vai me tornar famoso.

Quando ele voltou a olhar para frente, o carro tinha ido embora.




2 de setembro_Garota nova

Oito ruas. Era essa a distancia que tínhamos que percorrer de Cotton Bend até Jackson High. Aparentemente eu conseguia reviver minha vida toda subindo e descendo oito ruas, e oito ruas eram o bastante para tirar o estranho rabecão preto da minha cabeça. Talvez tenha sido por isso que não mencionei nada para Link.

Passamos pelo Pare & Compre, também conhecido como Pare & Roube. Era o único mescado da cidade, e o que mais tínhamos de mais parecido com um 7 Eleven. Então sempre que estávamos de bobeira com alguém por la, tínhamos que torcer para não dar de cara com a mãe de alguém fazendo compras para o jantar ou pior, com Amma.

Percebi o familiar Grand Prix estacionado na porta.

_Oh-oh. Fatty já está de plantão_ Ele estava no banco do motorista, lendo The Stars and Stripes.

_Talvez ele não tenha visto a gente._ Link olhou pelo retrovisor, tenso.

_Talvez a gente esteja ferrado.

Fatty era o inspetor encarregado de procurar os alunos da escola Stonewall Jackson High que matavam aula, assim como um orgulhoso integrante da força policial de Gatlin. A namorada dele, Amanda, trabalhava no Pare & Roube, e Fatty ficava estacionado lá na porta durante a maioria das manhãs, esperando que os produtos da padaria chegassem. Isso era um tanto inconveniente se você estivesse sempre atrasado, como Link e eu.

Não era possível frequentar a Jackson High sem conhecer a rotina de Fatty tão bem quanto nosso próprio horário de aulas. Hoje, Fatty sinalizou com a mão para irmos em frente sem nem tirar os olhos da seção de esportes. Ele estava nos dando uma folga.

_Seção de espotes e um pão doce.Você sabe o que isso significa._ Temos cinco minutos.


***

Seguimos no Lata-Velha até estacionamento da escola com a marcha em ponto morto, na esperança de passar pela secretaria despercebidos. Mas ainda chovia muito, então na hora que entramos no prédio, estávamos ensopados e nossos tênis faziam um barulho tão alto que daria na mesma se tivéssemos entrado voluntariamente. 

_Ethan Wate! Wesley Lincoln!

Ficamos de pé pingando na secretaria, esperando os bilhetes de detenção que levaríamos para casa.

_Atrasados para o primeiro dia de aula. Sua mãe vai usar algumas palavras bem escolhidas com você, Sr. Lincoln. E não faça essa cara de superior, Sr. Wate. Amma vai te dar uma surra.

 A Sra. Hester estava certa. Amma saberia que cheguei atrasado em uns cinco minutos, isso se já não soubesse. As coisas eram assim por aqui. Minha mãe dizia que Carlton Eaton, o diretor da agência do correio, lia qualquer carta que parecesse meio interessante. Ele nem se dava ao trabalho de colar o envelope de novo. Não é como se alguma novidade de verdade pudesse existir. Cada casa tinha seus segredos, mas todos na rua sabiam quais eram. Até isso não era segredo.

_Srta. Hester, eu só vim dirigindo devagar por causa da chuva._ Link tentou ser encantador. A Srta. Hester puxou um pouco os óculos e olhou para Link, nada encantada. A correntinha que prendia os óculos dela ao redor do pescoço balançou para frente e para trás.

_Não tenho tempo para bater papo com vocês agora. Estou ocupada preenchendo seus bilhetes de detenção, que é onde vocês passarão a tarde de hoje._ ela disse enquanto nos entregava um folheto azul para cada um.

Ela estava ocupada, sei. Deu para sentir o cheiro do esmalte antes mesmo de dobrar para o corredor. Bem-vindos de volta.


***

Em Gatlin, o primeiro dia de aula nunca muda. Os professores, que conhecem a gente da igreja, decidiram se eramos burros ou inteligentes quando estávamos no jardim de infância. Eu era inteligente porque meus pais eram professores universitários. Link era burro porque amassou as paginas do Livro Sagrado durante a Caça às Escrituras e porque vomitou uma vez durante o desfile de Natal. Como eu era inteligente, recebia boas notas nos meus trabalhos; como Link era burro, recebia notas ruins. Acho que ninguém se dava ao trabalho de lê-los. Às vezes eu escrevia uma coisa qualquer no meio das redações só para ver se meus professores diriam alguma coisa. 

Nenhum nunca disse nada.

Infelizmente, o mesmo principio não se aplicava a provas de múltiplas escolha. No primeiro tempo, na aula de Inglês, descobri que minha professora de 700 anos de idade, cujo verdadeiro nome era Sra. English, tinha mandado a gente ler O Sol é para Todos durante o verão, então me dei mal na primeira prova. Ótimo. Eu tinha lido o livro há uns dois anos. Era um dos favoritos da minha mãe, mas fazia tempo e eu tinha esquecido os detalhes. 

Leitura online · Postagem


Uma informação pouco conhecida sobre mim: leio o tempo todo. Livros são a unica coisa que me tira de Gatlin, mesmo que por pouco tempo. Eu tinha um mapa na parede, e toda vez que eu lia sobre um lugar que queria conhecer, eu fazia uma marcação nele. Nova York estava marcada por causa de O Apanhador no Campo de Centeio. Na Natureza da Selvagem me levou a mancar o Alasca. Quando li Pé na Estrada, marquei Chicago, Denver, Los Angeles e Cidade do México. Kerouac pode nos levar praticamente a todos os lugares. De tempos em tempos, eu fazia uma linha para ligar os lugares marcados. Uma linha verde fina que eu seguiria numa viagem de carro no verão antes de ir para a faculdade, isso se conseguisse sair dessa cidade. O mapa e o lance da leitura eram um segredo só meu. Livros e basquete não misturavam por aqui.

A aula de química não foi muito melhor. O Sr. Hollenback me amaldiçoou escolhendo Emily Odeio-Ethan para minha parceira de laboratório, também conhecida como Emily Asher, que me despreza desde o baile do ano passado, quando cometi o erro de usar All Star com o smoking e deixar que meu pai nos levasse no Volvo enferrujado. A janela quebrada que não fechava tinha desarrumado seu cabelo louro perfeitamente cacheado para o baile, e na hora que chegamos ao ginásio ela parecia Maria Antonieta ao acordar. Emilt não falou comigo o resto da noite e mandou Savannah Snow me dar o fora por ela a três passos da mesa do ponche. E esse foi o fim da historia.

Era uma fonte de diversão sem fim para os cara, que viviam na expectativa de que íamos ficar juntos de novo. O que eles não sabiam era que eu não curtia garotas como Emily. Ela era bonita, mas era só isso. E olhar para ela não compensava ter que ouvir o que saia de sua boca. Eu queria alguém diferente, alguém com quem eu pudesse conversar sobre outras coisas além de festas e coroações no baile de inverno. Uma garota que fosse inteligente ou engraçada, ou pelo menos uma parceira de laboratório razoável. Talvez uma garota assim fosse um sonho, mas um sonho ainda era melhor do que um pesadelo. Mesmo se o pesadelo usasse saia de líder de torcida.

Sobrevivi à aula de química, mas meu dia só piorou. Pelo visto, eu ia ter aula de Historia Americana de novo esse ano, que era a unica Historia ensinada na Jackson, tornando o nome redundante. Eu passaria meu segundo ano consecutivo estudando a "Guerra da Agressão Norte" com o Sr. Lee, cujo nome era só coincidência. Mas como todos nós sabíamos, em espirito, o Sr. Lee e o famoso general da Confederação eram a mesma pessoa. O Sr. Lee era um dos poucos professores que realmente me odiavam. No ano anterior, por causa de um desafio de Link, eu tinha feito uma redação chamada "Guerra da Agressão Sul", e o Sr. Lee me deu um D. Acho que os professores liam sim as redações as vezes, afinal.

Achei um lugar atrás ao lado de Link, que estava ocupado copiando as anotações da aula na qual ele dormira antes dessa. Mas ele parou de escrever assim que sentei.

_Cara, você soube?

_Soube o que?

_Tem uma garota nova na Jackson.

_Tem um monte de garotas novas, uma turma inteira do 1º ano, imbecil.

_Não estou falando das garotas do 1º ano. Tem uma garota nova no nosso ano.

Em qualquer outra escola, uma garota nova  o 2º ano não seria novidade. Mas estávamos na Jackson. E não tínhamos uma garota nova no nosso ano desde o 3º ano fundamental, quando Kelly Wix veio morar com os avós depois que o pai foi preso por gerenciar um esquema de jogatina no porão da casa deles em Lake City.

_Quem é ela?

_Não sei. Tive aula de Cívica no segundo tempo com todos os nerds da banda, e eles não sabiam nada além de que ela toca o violino ou algum instrumento assim. Queria saber se ela é gata.

Linke tinha a mente limitada, como a maioria dos caras. A diferença era que a mente limitada dele estava diretamente ligada à boca.

_Então ela é uma nerd da banda?

_Não. É musica. Talvez tenha o mesmo amor que eu por musica clássica.

_Musica clássica?

Link só tinha ouvido musica clássica no consultório do dentista.

_Você sabe, os clássicos. Pink Floyd. Black Sabbath. Os Stones.

Comecei a rir.

_Sr. Lincoln, Sr. Wate. Lamento interromper a conversa de vocês, mas eu gostaria de começar, se vocês concordarem.

O tom do Sr. Lee era tão sarcástico quanto o do ano passado, e o cabelo oleoso penteado de forma a tentar cobrir a careca e as marcas de suor nas axilas continuavam horríveis. Ele distribuiu cópias do mesmo planejamento que provavelmente usava ha 10 anos. Participar de uma encenação da Guerra Civil era obrigatório. Claro que era. Eu podia pegar emprestado o uniforme de um dos meus parentes que participaram de encenações por diversão nos finais de semana. Que sorte a minha.

Depois que o sinal tocou, Link e eu ficamos no corredor perto dos nossos armários na esperança de dar uma olhada na garota nova. Pelo que ele, falava, ela já era sua futura alma gêmea e companheira de banda e, provavelmente, companheira de algumas outras coisas que eu nem queria saber. Mas a única coisa que conseguimos ver foi Charlotte Chase usando uma saia jeans dois números menores. Isso significava que não íamos descobrir nada até a hora do almoço, porque nossa próxima aula era LSA, Linguagem de Sinais Americana, e falar era rigorosamente proibido. Ninguem era bom o bastante nos sinais para sequer soletrar "garota nova", principalmente porque LSA era a única aula que tínhamos junto com o resto do time de basquete de Jackson.

Eu estava no time desde o oitavo ano, quando cresci 15 centímetros no verão e acabei ficando uma cabeça mais alto que todo mundo da minha turma. Além do mais, é preciso fazer alguma coisa normal quando os dois pais são professores. No fim da contas, eu era bom em basquete. Eu sempre parecia saber por onde os jogadores do outro time iam passar a bola, e isso me dava um lugar garantido para sentar no refeitório todo dia. Na Jackson, isso valia alguma coisa.

Hoje aquele lugar valia ainda mais porque Shawn Bishop, nosso armador, tinha visto a garota nova. Link perguntou a única coisa que importava para qualquer um dele:

_E então, ela é gata?

_Muito gata.

_Gata estilo Savannah Snow?

Como se tivesse sido combinado, Savannah, o padrão pelo qual todas as outras garotas da Jackson eram avaliadas, entrou no refeitório de braços dados com Emily Odeio-Ethan, e todos ficamos olhando porque Savannah tinha 1,72 metros com as mais perfeitas pernas que já tínhamos visto. Emily e Savannah era quase uma pessoa só, mesmo quando não estavam de uniforme de líder de torcida. Cabelos louros, bronzeamentos artificiais, chinelos e saias jeans tão curtas que mais pareciam cintos. Savannah tinha as pernas, mas era o top do biquíni de Emily que todos os caras queriam conferir no lago durante o verão. Elas nunca pareciam carregar livros, só pequenas  bolsinhas de metal enfiadas debaixo do braço, que mal tinham espaço para um celular, isso nas poucas ocasiões em que Emily parava de mandar mensagens de texto.

As diferenças entre elas se resumiam às posições na equipe de líderes de torcida. Savannah era a capitã, e também era base: uma das garotas que sustentavam duas outras líderes de torcida na famosa pirâmide dos Wildcats. Emily era uma voadora, a garota no topo da pirâmide, a que era jogada de 1,50 a 1,80 metros no ar para dar uma pirueta ou outra maluquice que poderia facilmente resultar em um pescoço quebrado. Emily arriscaria qualquer coisa para ficar no topo daquela pirâmide. Savannah não precisava. Quando Emily era jogada, a pirâmide ficava bem sem ela. Quando Savannah se movia dois centímetros, a pirâmide toda desabava.

Emily Odeio-Ethan reparou que olhávamos para elas e me encarou com raiva. Os caras riram. Emory Watkins deu um tapinha nas minhas costas.

_Tá podendo, Wate. Você conhece Emily, quanto mais ela olha com raiva, mais ela gosta da pessoa.

Eu não queria pensar em Emily hoje. Queria pensar no oposto de Emily. Desde que Link tinha falado na aula de Historia, aquilo estava na minha cabeça. A garota nova. A possibilidade de alguém diferente, de algum lugar diferente. Talvez alguém com uma vida mais significativa que a nossa e, provavelmente, que a minha.

Talvez até alguém com quem eu tenha sonhado. Eu sabia que era uma fantasia, mas queria acreditar dela.

_Vocês souberam da garota nova?

Savannah sentou no colo de Earl Petty. Earl era o capitão do time e namorado de Savannah de tempos em tempos. Agora, eles estavam juntos. Ele passou as mãos pelas pernas alaranjadas dela tão alto na coxa a ponto de a gente não saber para onde olhar.

_Shawn estava os contando. Disse que ela é gata. Vão coloca-la na equipe?

Link pegou umas batatas da minha bandeja.

_ Improvável. Vocês têm que ver o que ela está vestindo.

Golpe um.

_E como ela é pálida.

Golpe dois. Ninguém é magra demais ou bronzeada demais pelos padrões de Savannah.

Emily sentou ao lado de Emory, inclinando-se sobre a mesa um pouco demais.

_Ele contou pra vocês quem ela é?

_O que isso quer dizer?

Emily fez uma pausa para efeito dramático.

_Ela é sobrinha do Velho Ravenwood.

Ela não precisava de efeito para dizer isso. Era como se tivessem retirado todo o ar do recinto. Alguns caras começaram a rir. Pensaram que ela estava brincando, mas eu vi que não estava.

Golpe três. Ela estava fora de questão. Tão fora que eu nem conseguia mais imagina-la. A possibilidade de minha garota dos sonhos aparecer sumiu antes mesmo que eu pudesse imaginar nosso primeiro encontro. Eu estava fadado a mais três anos de Emilies.

Macon Melchizedek Ravenwood era o recluso da cidade. Vamos apenas dizer que eu lembrava o bastante de O Sol é para Todos para saber que o Velho Ravenwood fazia Boo Radley parecer um cara extremamente popular. Ele morava em uma casa velha em ruínas, na fazenda mais antiga e abominável de Gatlin, e acho que ninguém o via desde antes de eu nascer ou mais.

_Esta falando serio?_ perguntou Link.

_Completamente. Carlton Eaton contou para minha mãe ontem quando trouxe nossa correspondência.

Savannah assentiu.

_Minha mãe ouviu a mesma coisa. Ela foi morar com o Velho Ravenwood há alguns dias vinda da Virgínia ou de Maryland, não lembro.

Todos continuaram a falar dela, das roupas e dos cabelos e do tio dela, e do quanto ela provavelmente devia ser esquisita. Isso era o que eu mais odiava em Gatlin: o fato de que todo mundo tinha alguma coisa a dizer sobre tudo que você falava, fazia ou, nesse caso, vestia. Fiquei encarando o macarrão na minha bandeja, nadando em um líquido laranja gosmento que não se parecia muito com molho de queijo.

Dois anos, oito meses e a contagem continua. Eu tinha que sair dessa cidade.


***

Depois da escola, o ginásio estava sendo usado para teste de líderes de torcida. A chuva tinha finalmente parado, então o treino de basquete foi na quadra externa, com o concreto rachado, os aros das cestas tortos e poças de água da chuva da manhã. A gente tinha que ter cuidado para não bater na rachadura que percorria o meio da quadra como o Grand Canyon. Fora isso, dava para ver quase todo o estacionamento e observar a maior parte da interação social da Jackson High enquanto a gente se aquecia.

Hoje eu estava com a mão boa. Acertei todos os setes arremessos que fiz da linha de lance livre, mas Earl também estava bem, fazendo cesta sempre que eu fazia uma.

Swish. Oito. Parecia que era só eu olhar para a rede e a bola ia direto para lá. Alguns dias simplesmente eram assim.

Swish. Nove. Earl estava irritado. Percebi pelo modo como ele batia a bola com mais força cada vez que eu arremessava. Ele era nosso outro centro. Nosso acordo não-verbal era: eu o deixava comandar o time e ele não me perturbava se eu não estivesse com vontade de ficar de papo no Pare & Roube todo dia depois do treino. Chegava uma hora que enchia o saco falar das mesmas garotas e comer Slim Jims.

Swish. Dez. Eu não errava. talvez fosse genético. Talvez fosse outra coisa. Eu nunca tinha entendido, mas desde que minha mãe morreu, parei de tentar entender. Era espantoso que eu tivesse chegado a ir ao treino.

Swish. Onze. Earl resmungou atrás de mim, batendo a bola com ainda mais força. Tentei não sorrir e olhei para o estacionamento quando fiz o arremesso seguinte. Vi um emaranhado de cabelos pretos e compridos atrás do volante de um longo carro preto.

Um rabecão. Fiquei paralisado.

Então ela se virou, e pela janela aberta pude ver uma garota olhando em minha direção. Pelo menos pensei ver. A bola bateu no aro e quicou em direção à cerca. Atrás de mim, ouvi um som familiar.

Swish. Onze. Earl Petty podia relaxar.

Quando o carro se afastou, olhei para a quadra. O resto dos caras estava de pé ali como se tivessem acabado de ver um fantasma.

_Aquela era...?

Billy Watts, nosso ala, assentiu, segurando na cerca de metal com uma das mãos.

_A sobrinha do Velho Ravenwood.

Shawn jogou a bola para ele. 

_É. Exatamente como disseram. Dirigindo o rabecão dele.

Emory sacudiu a cabeça.

_Ela é gata mesmo. Que desperdício.

Eles voltaram a jogar bola, mas quando Eart fez o arremesso seguinte, começou a chover de novo. Trinta segundos depois, fomos pegos no meio de uma tempestade, a mais forte do dia. Fiquei lá de pé deixando a chuva acabar comigo. Meu cabelo molhado caía sobre os olhos, bloqueando o resto da escola, do time.

O mau presságio não era apenas um rabecão. Era uma garota.

Por alguns minutos, eu tinha me permitido ter esperanças. De que talvez esse ano não seria como todos os outros anos, de que alguma coisa fosse mudar. De que eu teria alguém com quem conversar, alguém que realmente me entendesse.

Mas tudo que tive foi um dia bom na quadra, e isso nunca tinha sido o suficiente.


2 de setembro_ Um buraco no céu.

Frango frito, purê de batata com molho, vagem e pão - o prato, frio e raivoso sobre o fogão onde Amma tinha deixado. Normalmente ela mantinha meu jantar quente até que eu chegasse do treino, mas hoje não. Eu estava muito encrencado. Amma estava furiosa, sentada à mesa comendo balinhas de canela e rabiscando nas palavras cruzadas do New York Times. Meu pai assinava escondido a edição de domingo porque as palavras cruzadas do The Stars and Stripes tinham muitos erros de ortografia e as do Readers Digest eram pequenas demais. Não sei como ele conseguia fazer sem que Carlton Eaton percebesse, pois ele teria feito a cidade inteira saber que éramos bons demais para o The Stars and Stripes. Mas não havia nada que meu pai não fizesse por  Amma.

Ela deslizou o prato na minha direção, olhando para mim sem olhar para mim. Enfiei purê de batata e frango frios na boca. Não havia nada que Amma odiasse mais do que comida deixada no prato. Tentei manter distância da ponta do seu lápis especial número dois, usado apenas para palavras cruzadas e mantido tão apontado que poderia ferir a ponto de sangrar. Hoje, era possível.

Escutei o barulho ininterrupto da chuva no telhado. Não havia nenhum outro som na cozinha. Amma bateu o lápis na mesa.

_Oito letras. Confinar ou provocar dor devido a um erro cometido.

Ela me lançou outro olhar. Enchi a boca de purê de batata. Eu sabia o que estava a caminho. Nove horizontal.

_C-A-S-T-I-G-A-R. O que quer dizer punir. O que quer dizer que se não consegue chegar na escola na hora, não vai sair dessa casa.

Fiquei pensando sobre quem tinha ligado para informa-la de que eu chegara atrasado, ou o mais provável, quem não tinha ligado. Ela apontou o lápis apesar de ele estar ainda de ponta fina, enfiando-o no velho apontador automático na bancada. Ela ainda estava claramente "não olhando" para mim, o que era bem pior do que me olhar nos olhos.

Andei até onde ela estava apontando o lápis e passei meu braço em torno dela, dando-lhe um bom aperto.

_Pare com isso, Amma. Não fique zangada. Estava chovendo forte de manhã. Você não ia querer que corrêssemos na chuva, não é?

Ela ergueu uma sobrancelha, mas a expressão de amenizou.

_Bem, parece que vai continuar chovendo de agora até o dia em que você cortar esse cabelo, então é melhor você pensar em um jeito de chegar à escola antes que o sinal toque.

_Sim, senhora._Apertei-a mais uma vez e voltei para meu purê frio. _Você nunca vai acreditar no que aconteceu hoje. Tem um garota nova na nossa turma._ Nem sei por que eu disse aquilo. Acho que ainda estava na minha cabeça.

_Acha que não sei sobre Lena Duchannes?

Engasguei com o pão. Lena Duchannes. Podia rimar com rain. O modo como Amma falou fez parecer que a palavra tinha uma sílaba a mais. Dukay-yane.

_É esse o nome dela? Lena?

Amma empurrou um copo de achocolatado em minha direção.

_É e não, e não é da sua conta. Você não devia se meter com coisas das quais não sabe nada, Ethan Wate.

Amma sempre falava em código e nunca oferecia mais do que isso. Eu não ia à casa dela em Waders Creek desde que era criança, mas sabia que a maioria das pessoas da cidade ia. Amma era a leitora de tarô mais respeitada num perímetro de 160 quilômetros de Gatlin, assim como a mãe dela antes dela e a avó dela antes da mãe. Seis gerações de videntes. Gatlin estava cheia de batistas temente a Deus, metodista e pentecostais, mas eles não conseguiam resistir à tentação das cartas, da possibilidade de mudar o curso do próprio destino. Porque era isso que eles acreditavam que uma poderosa vidente podia fazer. E Amma era uma grande força com a qual contar.

Às vezes eu encontrava um dos seus amuletos caseiros na minha gaveta de meias ou pendurado sobre a porta do escritório do meu pai. Só perguntei para que eles serviam uma vez. Meu pai provocava Amma sempre que achava um, mas percebi que eles nunca os removia. "Melhor prevenir do que remediar". Acho que ele queria dizer de prevenir de Amma, que podia fazer você precisar se remediar.

_Ouviu mais alguma coisa sobre ela?

_Cuidado. Um dia você vai fazer um buraco no céu e o universo vai cair por ele. Aí todos nós estaremos com problemas.

Meu pai entrou na cozinha de pijama. Ele se serviu de uma xícara de café e pegou uma caixa de cereal de trigo da despensa. Dava para ver os tampões amarelos ainda enfiados nas orelas dele. O cereal significava que o dia dele estava começando. Os tampões significavam que ainda não tinha começado de verdade.

Me inclinei e sussurrei para Amma:

_O que você ouviu?

Ela pegou meu prato com força e o levou para a pia. Lavou uns ossos que pareciam de porco, o que era estranho, já que a comida tinha sido frango e os colocou em um prato.

_Isso não é da sua conta. O que eu gostaria saber é por que você está tão interessado.

Encolhi os ombros.

_Na verdade, não estou. Só curioso.

_Você sabe o que dizem sobre curiosidade.

Ela enfiou um garfo no meu pedaço de torta de creme. Depois se virou para mim, dando Aquele Olhar e saiu. Até meu pai reparou na porta da cozinha balançando depois que ela saiu e puxou um tampão do ouvido.

_Como foi na escola?

_Bem.

_O que você fez a Amma?

_Cheguei atrasado à escola.

Ele observou meu rosto. Observei o dele.

_Número dois?

Assenti.

_Apontado?

_Ja estava apontado mas ela o apontou mais._Suspirei.

Meu pai quase sorriu, o que era coisa rara. Senti uma onde de alívio, talvez até de ter conseguido uma façanha.

_Sabe quantas vezes sentei a essa mesa velha enquanto ela me ameaçava com um lápis quando eu era criança?_perguntou ele, apesar de não ser exatamente uma pergunta. A mesa, lascada e manchada de tinta, cola e caneta de todos os Wate que vieram antes de mim, era uma das coisas mais velhas da casa.

Sorri. Meu pai pegou a tigela de cereal e balançou a colher na minha direção. Amma tinha criado meu pai, um fato do qual eu era lembrado cada vez que pensava em ser insolente com ela quando criança.

_M-I-R-I-A-D-E._ele soletrou a palavra enquanto colocava a tigela na pia._P-L-E-T-O-R-A. O que quer dizer maior do que você, Ethan Wate.

Quando ele chegou embaixo da luz da cozinha, o meio-sorriso se reduziu a um quarto e depois sumiu. Ele parecia ainda pior que o normal. As sombras no rosto estavam mais escuras, e dava para ver os ossos embaixo da pele. O rosto estava verde de tão pálido por nunca sair de casa. Ele parecia um pouco com um cadáver vivo, já havia alguns meses. Era difícil lembrar que ele era a mesma pessoa que costumava sentar comigo por horas na beira do lago Moultrie, comendo sanduíche de salada de galinha e me ensinando como jogar a linha de pesca. "Para a frente e para trás. Dez e duas. Dez e duas. Como os ponteiros do relógio." Os últimos cinco meses foram difíceis para ele. Ele amava mesmo minha mãe. Mas eu também amava.

Meu pai pegou o café e começou a andar em direção ao escritório. Era hora de encarar os fatos. Talvez Macon Ravenwood não fosse o único recluso da cidade. Eu achava que nossa cidade não era grande o bastante para dois Boo Radley. Mas isso tinha sido o mais próximo de uma conversa que nós tínhamos tido em meses, e eu não queria que ele fosse embora.

_Como está indo o livro?_soltei. Fiquei e converse comigo. Era o que queria dizer.

Ele pareceu surpreso, mas deu de ombros.

_Está indo. Ainda tenho muito trabalho a fazer._ Ele não conseguia. Era o que ele queria dizer.

_A sobrinha de Macon Ravenwood acabou de se mudar para cá._ falei essas palavras quando ele tinha colocado os tampões de volta. Fora de sincronia, nosso modo habitual. Pensando melhor, minha sincronia com a maioria das pessoas tinha sido assim ultimamente.

Meu pai tirou um tampão, suspirou e tirou o outro.

_O quê?

Ele já estava de volta para o escritório. O cronômetro da nossa conversa estava quase zerado.

_Macon Ravenwood, o que sabe sobre ele?

_O mesmo que todo mundo, acho. Ele é um recluso. Não sai de casa há anos, pelo que sei.

Ele empurrou a porta do escritório e passou por ela, mas não o segui. Fiquei em frente à porta.

Nunca coloquei o pé lá. Uma vez, só uma, quando eu tinha 7 anos, meu pai me pegou lendo o livro dele antes de ter terminado de revisar. O escritório era um lugar escuro e assustador. Tinha um quadro que ele sempre mantinha coberto com um lençol sobre o esfarrapado sofá vitoriano. Eu sabia que não deveria nunca perguntar o que havia embaixo o lençol. Depois do sofá, perto da janela, ficava a escrivaninha do meu pai. Era de mogno entalhado, outra antiguidade que tinha sido herdada junto com a casa, passada de geração em geração. E livros, velhos livros de capas de couro que eram tão pesados que ficavam apoiados sobre um suporte de madeira quando estavam abertos. Aquelas eram coisas que nos prendiam a Gatlin, nos prendiam a Wates Landing, assim como tinham prendido meus ancestrais por mais de cem anos.

Sobre a escrivaninha estava o manuscrito dele. Estava lá em uma caixa de papelão aberta, e eu tinha que saber o que dizia. Meu pai escrevia terror gótico, então não havia muito que ele escrevesse que fosse apropriado para um menino de 7 anos ler. Mas cada casa em Gatlin era cheia de segredos, assim como o próprio sul, e minha casa não era exceção, mesmo naquela época.

Meu pai me encontrou sentado no sofá do escritório com páginas espalhadas em volta de mim, como se uma bombinha tivesse explodido dentro da caixa. Eu não era esperto o bastante para disfarçar os vestígios que deixava, coisa que aprendi rapidamente depois daquilo. Só me lembro dele gritando comigo e de minha mãe ir atrás de mim e me encontrar chorando embaixo da velha árvore de magnólias no nosso quintal."Algumas coisas são particulares, Ethan. Até mesmo para adultos."

Eu só queria saber. Esse sempre foi o meu problema. Até mesmo agora. Queria saber por que meu pai nunca saía do escritório. Queria saber por que não podíamos deixar essa velha casa insignificante só porque um milhão de Wates tinham morado aqui antes de nós, principalmente agora que minha mãe não estava mais aqui.

Mas não essa noite. Essa noite eu só queria me lembrar dos sanduíches de salada de galinha e "dez e duas" e de uma época em que meu pai comia o cereal na cozinha, brincando comigo. Adormeci lembrando.


***


Antes que o sinal tivesse tocado no dia seguinte, Lena Duchannes era o único assunto sobre o qual todo mundo falava na Jackson. De alguma forma, estre tempestade e apagões, Loretta Snow e Eugenie Asher, mães de Savannah e Emily, tinham conseguido botar o jantar na mesa e ligar para todo mundo na cidade para contar que a "parenta" do louco Macon Ravenwood estava dirigindo por Gatlin no rabecão dele, o qual elas tinham certeza que ele usava para transportar cadáveres quando ninguém estava vendo. A partir daí a história só piorou. Há duas coisas com as quais sempre podemos contar em Gatlin. A primeira é que você pode ser diferente, até louco, desde que saia de casa de vez em quando para que o pessoal não pense que você é um assassino da machadinha. A segunda, se há uma história para contar, pode ter certeza que haverá alguém para contá-la. Uma garota nova na cidade foi morar na mansão mal-assombrada com o recluso da cidade, isso é uma história, provavelmente a maior em Gatlin desde o acidente de minha mãe. Então não sei por que fiquei surpreso quando todos estavam falando sobre ela_todos menos os caras. Eles tinham um compromisso antes.

_E então, o que temos, Em?
_Contando os testes para líderes de torcida, parece que temos quatro notas 8, três notas 7 e um bando de notas 4._Emory não se deu ao trabalho de contar as garotas do 1°ano que ele avaliou como nota abaixo de 4.

Bati a porta do meu armário.

_Isso é novidade? Não são as mesmas garotas que vemos no Dar-eeKeen todo sábado?

Emory sorriu e deu um tapinha no meu ombro.

_Mas elas estão no jogo agora, Wate._Ele olhou para as garotas no corredor._E estou pronto para jogar.

Emory falava mais do que fazia. Ano passado, quando éramos do 1° ano, só o ouvíamos falando das formandas gatas com quem ele achava que ia ficar agora. Ele era tão iludido quanto Link, mas não tão inofensivo. Emory tinha um traço cruel; todos os Watkins tinham.

Shawn sacudiu a cabeça.

_Como colher pêssegos do arbusto.

_Pêssegos dão em árvores.

Eu já estava irritado, talvez porque já tivesse encontrado na seção de revistas do Pare & Roube antes da aula me sujeitando a essa mesma conversa enquanto Earl folheava exemplares da única coisa que ele lia: revistas com garotas de biquíni deitadas sobre capôs de carros.

Shawn olhou para mim, confuso.

_De que você está falando?

Nem sei por que me importava. Era uma conversa idiota, assim como era idiota que todos os caras tivessem que se encontrar antes da escola ás quartas de manhã. Era uma coisa que eu passei a encarar como bater ponto. Algumas coisas eram esperadas quando se estava no time. Sentávamos juntos no refeitório, íamos ás festas de Savannah Snow, convidávamos uma líder de torcida para nos acompanhar nos bailes, ficávamos de bobeira no lago Moultrie no último dia de aula. Era possível escapar de quase tudo se a gente batesse ponto. Só que para mim estava ficando cada vez mais difícil bater ponto, e eu não sabia por quê.

Eu ainda não tinha dado uma resposta quando a vi.

Mesmo que não a tivesse visto, eu saberia que ela estava lá porque o corredor, que geralmente ficava cheio de gente correndo por seus armários e tentando chegar ás aulas antes do segundo sinal, esvaziou em questão de segundos. Todo mundo deu um passo para trás quando ela andou pelo corredor. Como se ela fosse uma estrela do rock.

Ou uma leprosa.

Mas eu só conseguia ver uma garota bonita de vestido longo cinza sob um casaco esporte branco com a palavra Munique costurada e um All Star surrado preto nos pés. Uma garota que usava um cordão longo prateado em volta do pescoço, com um monte de coisas penduradas: um anel de plástico de uma máquina de chicletes, um alfinete e um bando de outras coisas que eu estava longe demais para ver. Uma garota que não parecia pertencer a Gatlin. Eu não conseguia tirar os olhos dela.

A sobrinha de Macon Ravenwood. O que havia de errado comigo?

Ela prendeu os cachos pretos atrás da orelha, o esmalte preto brilhando sob a luz fluorescente. As mãos estavam cobertas de tinta preta, como se ela tivesse escrito algo nelas. Andou pelo corredor como se nós fôssemos invisíveis. Tinha os olhos mais verdes que eu já vira, tão verdes que podiam ser considerados de uma nova cor.

_É, ela é gata_disse Billy.

Eu sabia em que eles estavam pensando. Por um segundo, pensaram em largar as namoradas pela chance de dar em cima dela. Por um segundo, ela foi uma possibilidade.

Earl a olhou de cima a baixo e bateu a porta do armário.

_Se você ignorar o fato de que ela é esquisita.

Havia alguma coisa no  jeito que ele falou isso, ou mais provavelmente, na razão pela qual ele falou. Ela era esquisita porque não era de Gatlin, porque não estava tentando entrar na equipe de líderes de torcida, porque não tinha olhado para ele duas vezes, ou nem mesmo uma. Em qualquer outro dia, eu o teria ignorado e ficado de boca fechada, mas hoje eu  não estava com vontade de ficar calado.

_Então ela é automaticamente esquisita, e por quê? Porque ela não está de uniforme, cabelo louro e saia curta?

Era fácil de ler o rosto de Earl. Essa era uma daquela vezes em que eu deveria ter seguido o opinião dele, e eu não estava mantendo minha parte do nosso acordo não-verbal.

_Porque ela é uma Ravenwood.

A mensagem foi clara. Gata, mas nem pense nisso. Ela não era mais uma possibilidade. Mas isso não os impediu de olhar, e todos ainda estavam olhando. O corredor, e todo mundo nele, tinha travado o olhar nela como se ela fosse um cervo preso entre caçadores.

Mas ela apenas continuou andando, o cordão em torno do pescoço.


***

Minutos depois, eu estava parado na porta da minha aula de inglês. Lá estava ela. Lena Duchannes. A garota nova, que ainda seria chamada assim cinquenta anos mais tarde (isso se não fosse chamada de sobrinha do Velho Ravenwood), entregando uma folha cor-de-rosa de transferência para a Sra. English, que apertou os olhos para ler. 

_Fizeram uma confusão com o meu horário e eu não tinha aula de Inglês_estava dizendo ela._ Eu tinha Historia Americana em dois tempos, e eu já estudei Historia Americana na minha antiga escola._Ela parecia frustrada, e eu tentei não sorrir. Ela nunca tinha dito aula de Historia Americana, não do jeito que o Sr. Lee ensina.

 _É claro. Escolha seu lugar.

A Sra. English deu a ela um exemplar de O Sol é para Todos. O livro parecia nunca ter sido aberto, o que provavelmente era verdade já que fizeram um filme baseado nele.

A garota nova olhou para a frente e me pegou observando-a. Olhei para o outro lado, mas era tarde demais. Tentei não sorrir, mas fiquei sem graça, e isso só me fez sorrir mais. Ela não pareceu perceber.

_Tudo bem, eu trouxe o meu._ Ela pegou um exemplar do livro, de capa dura, com uma árvore entalhada na capa. Parecia bastante velho e gasto, como se ela o tivesse lido mais de uma vez._ É um dos meus livros favoritos._Ela apenas comentou, como se não fosse estranho. Agora eu a estava encarando.

Senti um rolo compressor nas minhas costas e Emily me empurrou pela porta como se eu não estivesse de pé ali. Esse era o jeito dela de dizer oi e de esperar que eu a seguisse até o fundo da sala, onde nossos amigos estavam sentados.

A garota nova sentou em um lugar vazio na primeira fila, na Terra de Ninguém, em frente á mesa da Sra. English. Movimento errado. Todo mundo sabia que não se deve sentar ali. A Sra. English tinha um olho de vidro, e a péssima audição de alguém cuja família tem o único estande de tiro da região. Quem se sentava em qualquer lugar que não fosse em frente à mesa dela não era visto, portanto não era solicitado. Lena ia ter que responder perguntas pela turma inteira.

Emily pareceu contente e mudou o caminho para passar pelo lugar dela, chutando a bolsa de Lena e fazendo com que os livros dela se espalhassem pelo corredor entre as fileiras.

_Ops._ Emily se abaixou e pegou um caderno espiral surrado que estava quase perdendo a capa. Ela o segurou como se fosse um rato morto._ Lena Duchannes. Esse é o seu nome? Pensei que fosse Ravenwood.

Lena olhou para o alto, lentamente.

_Pode me dar meu caderno?

Emily folheou as páginas como se não tivesse ouvido.

_É seu diário? Você é escritora? Isso é tão legal.

Lena esticou a mão.

_Por favor.

Emily fechou o caderno e o afastou dela.

_Posso pegar isso emprestado por um minuto? Eu adoraria ler alguma coisa que você escreveu.

_Eu queria de volta agora. Por favor. _Lena ficou de pé. As coisas iam ficar interessantes. A sobrinha do Velho Ravenwood estava preste a se enfiar no tipo de buraco do qual ninguém conseguia sair, a memória de Emily era excelente.

_Primeiro você teria que saber ler._ Peguei o caderno da mão de Emily e o entreguei a Lena.

Depois sentei na carteira ao lado da dela, bem ali na Terra de Ninguém. O Lado do Olho Bom. Emily me encarou, incrédula. Eu não sabia por que tinha feito aquilo. Estava tão chocado quanto ela. Nunca tinha sentado na frente em nenhuma aula na minha vida. O sinal tocou antes que Emily pudesse dizer alguma coisa, mas não importava; eu sabia que pagaria por aquilo mais tarde. Lena abriu o caderno e ignorou nós dois.

_Podemos começar, pessoal?_ A Sra. English 













7 comentários:

  1. tem que terminar de escreveeeeer.. porfavor

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    1. Oh Deus, me esqueci completamente desse livro! Tem razão, tenho que terminar de posta-lo, porém, creio que não será possível, pois contínuo com o problema no pdf, eu meio que desisti desse livro :( . Desculpas, mas vai que um dia não volto a tentar com ele, ne?

      Beijos Bella

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  2. aff só escreveu o começo do livro não foi nem a metade

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    1. Peço desculpas, mas não deu pra terminar de posta-lo. Sinto muito, peço desculpas novamente. :)

      Beijos, Bella.

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  3. taava muuito boom,tava entrando na imaginaçao do Livri....ao voc parou de escreverr! terminaa por favoooor?

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  4. fes di proposito pra genti fica con vontadi i ñ pode ler

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